quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

dorices de outrora

entre os 16 e os 19 meses, foi isso que rolou:

entrego algo nas mão da Dora e ela:
- de nada mamãe.
- filha, quando a mamãe dá algo pra Dora, a Dora diz "obrigada, mamãe" e a mamãe é quem diz "de nada, filha" - entrego outro objeto a ela. e pergunto: 
- o que a Dora diz?
- de nada mamãe!



<3




ela anda fascinada por baleias. hoje, por acaso, encontrei um livro em casa, "o caracol e a baleia". o resultado: ela pula e exclama "baleiaaaa!" a cada página virada e, ao fim da história, um delicioso "mais mamãe, mais!"

Emoticon

<3

passamos por um cachorro.
ela: "óia! tachoiô!"
eu: "um tachoio filha!?"
ela: "tachoio não! tá-cho-iô!"

.

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com uma coruja de brinquedo na mão.
ela: "é minha xiôúja"
eu: "eu sei filha, sua xiôúja"
ela: "xiôúja não... xiô-úja!"
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ou seja, não é pq ela não sabe falar direito que a gente não vai falar direito com ela.




<3



"pupa pé! pupa pé! pupa pé!"

ela corre de um lado a outro na ponta do pé
Emoticon tongue

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

de onde as pessoas acham que o nome dela veio.

não são poucas e ainda serão muitas mais as vezes que associam o nome dela ao nome da personagem do desenho animado. e não há uma só vez em que eu não deseje uma coragem maior ou um filtro social menor para dar a seguinte resposta:

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'qual o nome dela?'
'Dora.'
'que lindo! por causa do desenho, né?'
'claro! liguei na Discovery Kids e ela chutou. ainda bem que tava passando 'Dora, a aventureira' e não 'Peppa Pig'.'
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ah se a vida me permitisse esse grau de sinceridade.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

rapidinhas: meleca.

conta minha mãe que, antes de ter filhos, sempre achou horroroso criança que dava língua. e aí eu nasci. basta folhear uma meia dúzia de álbuns de fotografias da minha infância para logo identificar meu maior hábito ao posar nas fotos: dar a língua. 
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vinte anos mais tarde, eu, adulta, tenho nojo-de-revirar-o-estômago de criança comendo meleca. e aí eu tenho uma filha que...

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se apega no mantra: 
vai-passar-é-só-uma-fase-vaiiii
passar-é-só-uma-fase-vai-passarrrrr
é-só-uma-fase-vai-passar-éééé
só-uma-fase-vai-passar-é-sóóóó
uma-fase-vai-passar-é-só-umaaaaa
fase-vai-passar-é-só-uma-faseeeee

terça-feira, 27 de outubro de 2015

#primeiroassédio

todas nós temos histórias de um primeiro assédio. todas nós temos histórias de muitos outros assédios mais. eles vieram de pessoas que deviam nos amar e nos proteger, mas que nos marcaram pra sempre com cenas que acabamos guardando lá no fundo da memória para que nunca sejam lembradas. vieram de completos estranhos que acham que não fizeram nada demais com aqueles olhares, palavras ou toques.

me embrulha o estômago pensar nas grandes chances que minha filha tem de passar por isso, de sentir o mesmo medo, constrangimento, nojo e culpa que eu senti por tantas vezes, por tanto anos. será que ela também vai demorar mais de vinte anos para entender que a culpa não é dela, que não é ela a se sentir constrangida, que não é ela a pessoa nojenta daquele contexto, que ela não precisa sentir medo? e, mais importante de tudo, será que precisa demorar décadas para que ela entenda que não precisa se calar diante disto?

vamos contar sobre o #primeiroassédio, o segundo, o terceiro, o décimo oitavo, o trigésimo! vamos falar sobre isso! até que fique bem claro que não é 'só uma cantada', que a menina de doze anos não é uma 'novinha' e que o corpo de uma mulher pertence a ela e somente a ela.

deu pra entender ou quer que desenhe?

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

creche pública.


como muitos outros aspectos da maternidade, o tema 'escola pra cria' foi pensado enquanto acontecia e não necessariamente de forma planejada. tivemos uma experiência muito bacana na primeira creche que nos acolheu, que teve papel importantíssimo na transição bebê-em-casa-bebê-na-creche, um lugar que até hoje recomendo a quem me procura pra saber como foi quando ela começou na creche aos 11 meses.


infelizmente a mensalidade de uma creche particular não cabe no bolso de todas as famílias. a verdade é que pagar creche é realidade possível para bem poucos pais e mães, com a gente não foi diferente. busquei na creche pública uma alternativa possível para nossa realidade financeira e a acabei com um envolvimento muito maior com a causa do que eu poderia esperar.



essa foto aí mostra muito pouco do que a creche representa pra mim. além do óbvio - bastante espaço verde pras crianças correrem -, esse cantinho no meio da zona sul do Rio de Janeiro conta com uma estrutura super bacana, equipe maravilhosa, apaixonada pelo trabalho que faz e que se coloca sempre muito aberta e disposta a construir a escola junto com as famílias, junto com as crianças.

precisamos desconstruir preconceitos tolos envolvendo a qualidade de serviços públicos e particulares. essa escola não deixa a desejar em absolutamente nada quando comparada a instituições particulares que visitei, muito pelo contrário... 

sei que não são todas as creches públicas que são boas assim, mas acredito muito que todas podem ser boas assim. por isso ter minha filha no ensino público vai muito além da economia em mensalidade, é um ato político. um ato político de ocupação de um espaço que é de todos nós e deve ser construído e cuidado por todos nós. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

carta aberta a quem não anda pra cima e pra baixo carregando um bebê

Prezados seres habitantes de um universo paralelo ao meu onde você não carrega um bebê por aí com você a onde quer que você vá,
este texto é para você, que encontra na rua uma mãe com um simpático bebê sorridente e acaba interagindo com a dupla. Seguem algumas dicas de etiqueta nesta interação:
- pode elogiar a vontade, mas se não tem algo positivo para falar? Não fale. Histórias sobre como a prima do ex-namorado da sua vizinha perdeu de forma trágica um filho com a mesma idade dificilmente vão interessar. Pode ficar só interagindo com o bebê, não tem problema.

- evite colocar a sua mão na mão do bebê. Bebês estão passando pela fase oral, colocam tudo a boca. Sua mão pode até estar limpa, mas a mãe da criança não sabe disso e não vai fazer muita diferença se você falar que acabou de lavar a mão.
- evite passar a mão na barriga de uma grávida que você nunca viu na vida. Acha isso um exagero? Imagine a situação sem a mulher estar grávida. Eu sei o milagre da vida é lindo, mas você sairia acariciando a barriga de estranhos se não fosse o bebê ali dentro? Se faz muita questão de passar a mão, peça. A mãe ainda é a dona da barriga.
- em hipótese alguma ofereça algo para o bebê comer sem antes perguntar a mãe se ele já come ou se ele pode comer aquilo que você quer oferecer. (Isso pra mim vale até para crianças maiores.)
- por favor, nunca pergunte “o que é que ele tem?”, “o que tem de errado com ele?” ou similares quando o bebê está chorando. O que quer que esteja acontecendo, a mãe provavelmente já sabe o que é e já está fazendo o possível para resolver. Se o choro do bebê te incomoda, se retire.
- também não tente adivinhar. Frases como “É fome, por que você não dá a mamadeira?”, “Tá com sono, né? Olha só como está tarde!” ou “Ela não está com frio? Olha a perninha de fora” são comentários absolutamente dispensáveis. Como dito ali em cima, a mãe já sabe o que está acontecendo e já está tomando as providências.
- não diga o que você acha. Sério. Mesmo que você tenha parido 10 filhos e criado mais 10 que foram largados na tua porta e todos eles estejam bem de vida, saudáveis e bem resolvidos. Ainda assim, quem sabe o que é melhor para aquele bebezinho em questão é a mãe dele.
- ofereça ajuda, mas não insista. Por mais enrolada que aquela mãe pareça estar, ela está acostumada a fazer o que quer que esteja fazendo. E se precisar de ajuda ela vai logo aceitar, ou até pedir. Insistir em ajudar enche o saco.
Bom senso, minha gente. Eu sei que não vem de fábrica. Mas pense que você é um estranho e o bebê é a coisa mais importante da vida daquela mãe.
E que fique claro que essas são observações para quando você é um estranho. Amigos e família servem para dar pitacos e interagir! 
Emoticon smile
ass. uma mãe que esteve junto a uma estranha sem noção por 40min num engarrafamento com a filha chorando de sono

terça-feira, 6 de outubro de 2015

errata do dia de hoje.

hoje preciso te pedir desculpas. 
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que você me perdoe pelo colo que não dei. pela pergunta que fingi não escutar. pela negociação na qual poderia ter cedido e não cedi. pelo momento juntas em que estive completamente ausente. pelo caminho percorrido de mãos dadas que não aproveitei. pelos suspiros impacientes. pela música que não cantei junto. pelo aconchego que não ofereci. pelo carinho que neguei.
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as vezes, filha minha, as mães tem um dia muito esquisito. um dia em que lá no fundo - ou não tão fundo assim - elas desejam voltar a ser só filhas e ter colo, respostas, acordos, presença, companhia, paciência, aconchego e carinho. 
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o amanhã não muda o que foi hoje. mas hoje mudou o que será amanhã. amanhã serei melhor. prometo. 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

quando foi que a militância pelo direito ao parto normal virou luta contra as mulheres que fizeram cesáreas?

querida mulher que passou de forma consciente por uma cesariana para que seu filho nascesse,

a luta a favor do parto normal não é contra você. 

quem busca e consegue um parto normal - ainda que esteja sujeita uma série de violências obstétricas - não acha que você ama menos o seu bebê e ela ama mais o dela por que você optou passar por uma cirurgia e ela não. é serio. se tua via de parto foi respeitada e a dela também, parabéns! ambas são privilegiadas por isso, você sabia? sim, pois dentre a clientes de planos de saúde, mais de 60% das mulheres começam sua gestação afirmando que querem ter seu bebê por parto normal, sabemos que menos de 20% tem seu parto por via vaginal. que tipo de escolha é essa?
como podemos falar de respeitar a vontade da mulher quando essa ‘opinião’ muda tão radicalmente em algumas semanas?  existe um mercado sustentado por essas cirurgias pré-agendadas – e que, não raro, são ditas ‘de emergência’ para a gestante e sua família. um hospital que ganha mais se tem previsão exata de quantas pacientes passarão pela sala de parto por dia. equipes médicas ganham que mais se planejam bem seu tempo dentro do hospital e dentro do consultório. imagine o que gasta uma paciente que opta por parir naturalmente em contraste com uma que passa por uma cirurgia onde há a necessidade de incontáveis recursos hospitalares. cabe a nós questionar o funcionamento desse mercado e refletir o quão ético é seguir alimentando o mesmo, não?
é indiscutível que cabe a mulher a total autonomia sobre o seu corpo. e não somente no parto, desde o seu nascimento. e essa autonomia passa pela consciência. meninas precisam conhecer seus corpos, aprender que podem se tocar, se conhecer, se masturbar e não ter vergonha disso. saber sobre reprodução vai muito além de contar os prováveis 28 dias do ciclo menstrual e colocar camisinha em banana num curto tempo de aula de ciências no oitavo ano. ensinemos as nossas meninas sobre o método Billings, alternativas aos absorventes de farmácia – absorventes de pano, coletores -, sobre formas de lidar com as cólicas. arranquemos o rótulo tragicômico da tensão pré-menstrual. ensinemos a elas a lidarem com seus corpos em vez de temerem os mesmos.
nós crescemos ouvindo como o corpo feminino é defeituoso: somos o sexo frágil; somos muito magras ou estamos acima do peso; nossos peitos são muito pequenos, muito grandes, caídos, diferentes entre si; o quadril é muito largo ou muito estreito. não há corpo feminino perfeito possível! o que nos é apresentado na mídia chega a ser risível, se olharmos atentamente. buscamos a cintura da Cinderela ou os seios da Lara Croft? tudo isso diminui a confiança da mulher sobre o próprio corpo. e o momento da gestação/parto/amamentação é só mais um momento onde olhamos para nós mesmas desacreditadas. quem vai se entender capaz de parir quando tem para isso uma ferramenta tão imperfeita e tão falha como o corpo feminino?
mulheres têm a confiança minada, pela ideia de que seus corpos são falhos e incapazes (ou elas mesmas o são, por consequência) e precisam de ajuda médica. como a mulher pode “escolher” se os médicos estão direcionando essa escolha? se os convênios possuem taxas de quase 90% de cesáreas há algo de muito grave nos corpos das mulheres ou no atendimento obstétrico?
o movimento da humanização do parto – que é plural e polifônico como todo movimento social – de modo geral propõe justamente divulgar informação para que a mulher tenha autonomia em relação ao seu corpo e seu parto. não é uma luta anti-escolha, muito menos anti-mulher-que-faz-cesárea, mas a favor da autonomia da mulher.
estamos jogando no mesmo time.


Ana Luz



colaboração: Marina Nucci

quarta-feira, 15 de julho de 2015

telefone sem fio.

ela no quarto.
eu no banheiro.
ela me grita de um canto da casa.
eu respondo de outro.

- mamain-nhê, cadê vuxê?
- tô no banheiro.
- vuxê tá fazendo totô?
- tô.
- e a vovó?
- não.
- cadê a vovó?
- tá no quarto dela.
- ela tá fazendo totô?
- espero que não.
- então tá bom. beijo.*

sabe aquele constrangimento que rola quando você tem que responder alguma coisa de dentro do banheiro? pois é, passou.

*agora ela tá nessa vibe de se despedir a cada fim de diálogo.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

palavrinhas mágicas.

- mamain-nhê, me dá bolinho?
- como se fala, filha?
- obrigada!
- não. você está pedindo...?
- licença!
- licença é pra passar. você está pedindo 'por fá...'
- papel!
- ...
- maimain-nhê, me dá bolinho?
.
..
...


'té lê?' - pedia a bebê-turning-menininha enquanto (per)seguia qualquer adulto da casa com o livro na mão.

'Leia!' - ordena a menina-rainha jogando a obra escolhida no colo do leitor da vez dando a ele pouca ou nenhuma chance de resposta.

de onde surgiu este imperativo? onde foi parar o por favor?

ela fica mais ariana a cada dia que passa.

.
..
...


quarta-feira, 3 de junho de 2015

mãe-avestruz.

são inúmeras e hilárias! as histórias que ouvimos de criança colocando os pais em situações de saia-justa. como qualquer fase, eu sabia que meu dia chegaria. como vários marcos da vida dela, veio antes do que eu esperava. não pensei que seria assim tão cedo. com 2 anos e 2 meses, Dora me fez desejar ser um avestruz pra poder enfiar a cabeça num buraco no chão. Tudo o que eu queria era su-mir.

entramos no metrô. uma senhora nos cede o lugar. normalmente eu não aceitaria vindo de alguém mais idoso, mas a combinação carro-cheio-com-duas-sacolas-e-criança não me permitiu tal educação, aceitei. a senhora ficou por ali puxando papo com Dora, que dividia sua atenção entre sua boneca e suas botas, ela não tava mesmo muito afim de papo. eu, tentando retribuir a gentileza da senhora, estimulo um diálogo: “filha, a senhora está falando com você, por que não dá boa noite a ela e agradece por nos ceder o lugar? Diga: obrigada, senhora”. Dora olha pra mim, olha pra senhora, mete o dedo na barriga da senhora e exclama para quem quisesse ouvir naquele vagão lotado “téin neném atí, mamain!? teeein!?”

preciso dizer que não tinha?

desnecessário, filha. desnecessário.


sábado, 9 de maio de 2015

seja mãe, não tenha razão.

positivo. parabéns! aproveita a barriga. cuidado pra não engordar muito. tem que ser parto normal, é melhor pra mãe e pro bebê. marca logo a cesárea, vai sofrer pra quê? 

isso mesmo, tem que amamentar. leite materno é amor líquido, essencial para o vínculo entre a mãe e o bebê. dá logo a mamadeira, o pai também tem direito a esse momento. seu leite é fraco. tá chorando, é sede, dá um gole d’água. esse menino dorme demais. mas ainda não dorme a noite inteira? nessa idade meu filho já ia direto até de manhã. olha só, já tá engatinhando! tira ele do chão, tadinho. dá só um biscoito, pra não aguar. você perde esse tempo todo fazendo comida pra ele jogar no chão? você deixa ele muito solto. fica tempo demais no colo. bota na creche, que melhora. tadinho, fica o dia todo na creche! você tem coragem de deixar em casa com babá? você está em casa cuidando dele até agora? mas e a sua vida? não vai voltar ao trabalho? a mulher não pode esquecer da vida por causa de filho. vai sair pra se divertir... que você está fazendo na rua uma hora dessas, não tem filho pequeno pra cuidar?

ele já tá na escola tão novinho? escola tem que ser tradicional, pensar no futuro. essa escola é muito rígida, criança tem que ser criança. não pode dar tudo o que o menino pede, não vai aprender a dar valor as coisas. só um presentinho por bom comportamento não faz mal a ninguém. aniversário de criança tem que ser comemorado. com o dinheiro que ela gastou nessa festa eu teria feito uma viagem. toda menina gosta de rosa. por que tudo dela tem que ser rosa? deixa um minuto na frente da tv pra você descansar. essa criança assiste televisão demais. você tá criando essa criança numa bolha. você é dura demais com ele. pra que tanta atividade extra curricular?  como assim ele passa a tarde em casa sem nenhuma atividade? ele não faz aula de nada?

já sai a noite tão nova? deixa a menina aproveitar a adolescência. você não dá limites, a vida vai ensinar pra eles. deixa de ser careta. deve ser triste vê-los saindo de casa tão cedo. eles ainda moram com você? e então, quando vêm os netos?



segunda-feira, 4 de maio de 2015

chorando a morte do 'tachoio'.

e, assim, sem mais nem menos você joga na minha cara que é Dora. sim, eu sei que esse é o seu nome. fui eu que escolhi e sou muito feliz com a minha escolha. todos elogiam. e não consigo pensar em nome que mais lhe coubesse. então, você me pergunta, qual a surpresa? por que o choque? 


a questão, minha filha, é que até semana passada você era Dóia. e assim como o meu smartphone volta e meia me pega com uma atualização de aplicativo qualquer pela qual eu não solicitei, você está constantemente adquirindo novas habilidades. e faz questão de sair por aí falando seu nome ‘certo’.


exageros e dramalhão a parte, o Dola ainda é muito mais comum que Dora, admito. mas o erre está ali, tímido, mas está ali. e daí que presença dele me faz perceber a partida de outras palavrinhas com as quais eu já tinha me habituado e que são (eram? eram..!) música para os orgulhosos e babões ouvidos de uma mãe coruja.


de uma hora pra outra, a Dóia virou Dola, o tachoio já é cacholo, fifufoni deu lugar ao telefone, tuto virou suco, dato Fufu é gato Chuchu... e meu coração se enche de um paradoxal orgulho nostálgico a cada nova atualização do mais fofo dos aplicativos.  

segunda-feira, 20 de abril de 2015

a gente não quer só comida.

ele estava ali sentado no chão. usando uma camisa de adulto bem suja. encolhido na frente a loja de roupas. me olhou de longe e sorriu. seguiu observando o troca-troca de colos da minha filha que acabou indo pro chão e também ali sentando.  pediu algo ao pai dela, que negou. e então veio a mim:

- tia, me compra um chinelo?

ele não pediu comida. não contou uma história triste (será que precisava contar?). ele estava descalço e pediu um chinelo. entramos na loja. eu, com filha no colo, ele, animado ao nosso lado, e o pai dela logo em seguida.

- ó tô com ela aqui! – ele avisa de pronto ao segurança, deixando evidente a experiência de alguém que deve ser constantemente expulso daquele lugar. o segurança me olha contrariado, estou claramente quebrando regras ao entrar com Luan naquela loja.

demoramos pra encontrar, a seção de calçados infantis. e quando encontramos ele sabe exatamente qual chinelo deseja.

- tia, pode ser esse aqui!?
- claro, vamos ver... quanto você calça?
- não sei.

experimentamos e, escolhido o chinelo, procuramos o caixa. Luan me conta orgulhoso que já havia conseguido ganhar um boné naquela manhã.

- como? – indago.
- pedindo, ué! uma dona muito linda comprou esse [boné] pra mim na banca.

para me mostrar o boné, Luan levanta a blusa, onde ele o guardou. o corpo miúdo do menino que diz ter 11 anos – mas parece ter 7 ou 8 – veste uma bermuda que deveria ser de um menino ainda menor.

- vamos ver uma bermuda pra você também? – eu ofereço.
- caraaaca, tia! quero uma para combinar com meu chinelo e com meu boné novo!

ele anda pela loja encantado. escolhe a bermuda. fala sobre o boné orgulhoso com a atendente do caixa - que, assim como o segurança, se mostra bastante incomodada com a presença de Luan ali. brinca com os espelhos. e me conta ainda que quer "fazer a sobrancelha que tá na moda".

em algum momento pergunto onde ele mora.
- aqui mesmo em Botafogo. por aqui.

e sua mãe?
- sei não.

e seu pai?
- tá preso.

e por fim, indago:
- Luan, você quer trocar sua bermuda nova aqui?
- claro que não né , tia? vou lá no Parque Guinle que tem cachoeira pra tomar banho. não vou colocar minha roupa nova sujo assim, né? - e confessa - mas antes ainda vou ficar por aqui pra conseguir uma camisa maneira.


ele me agradeceu. deu tchau e cumprimentou minha filha. e eu que, lá no início, pensei que só ia pagar um lanche, saí de lá concordando mais do que nunca com Arnaldo Antunes: a gente não quer só comida.  

quinta-feira, 16 de abril de 2015

sobre a indecisão que acomete as crianças de dois anos, ou como fazer mamãe de idiota.

é só a minha filha ou todas as crianças de dois anos nunca sabem o que querem comer? Hoje foi de leite para sopa, então arroz e por fim biscoito. Fiz o leite com mel:

- té tenti, mamain. -  esquentei.
- té giádu.
-  filha, não dá pra deixar gelado logo após esquentar o leite.
Então ela muda o foco:
- té xopinha. – esquento a sopa. Toma meia sopa e delibera:
- a Dóia té aôx, mamain. – esquento o arroz e, duas colheradas de arroz quente depois:
- té buínho!
- Dora, termine seu arroz e terá o bolinho.

Choro.
Escândalo.
Apocalipse.
Dou o bolinho. Come metade e pede:


- dá bixôtu, mamain, putavô?
como é que eu vou negar o biscoito, se ela pediu por favor? 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

dorices.

enquanto nós saímos do banho:

- você é minha delícia!
- naum! xú deíxia naum! eu xô sú mamáin!
- ah é!? e se você é minha mamãe, eu sou sua o que?
- vuxê é minha Dóia.


<3


a vovó prepara um ovo para ela e pergunta:

Dora, você quer a gema do ovinho mole ou dura?
- Té amaiéia!


<3


mostrando a ela fotos de quando eu estava grávida:

- olha filha, quem é esta?
- é a mamain!
- e dentro da barriga da mamãe, quem estava?
- é papai!


<3


ela passa da sala pra cozinha com um arco de tranças. eu a chamo:

- Dora!
- ...
- Dora?
- ...
- Do-rá!?
Só então ela responde lá de dentro:
- Xô Dóia naum... Xô Apunzel!


<3


De manhã, na cozinha:

- Dora , você quer o que de café da manhã?
- ...
- Quer vitamina?
- ...
- Quer banana?
- ...
- Quer sanduíche de queijo?
- ...
- Quer iogurte? Quer biscoito? Quer me responder!?
- Té espondê!

sexta-feira, 27 de março de 2015

ela vem chegando...

dez e meia... há dois anos atrás tinha início o nosso balé. de alguma forma que a ciência ainda não conseguiu explicar, você avisou que estava na sua hora. que não esperaria a Páscoa ou o mês de Abril, como muitos insistiam que seria. parto, amamentação, puerpério, separação, mestrado, e você ali do meu lado. sendo, ironicamente, a minha luz. naquele 27 de março, eu não tinha ideia do que viria pela frente. e eu ainda não tenho. até aquele, o 28 de março era uma data sem peso algum no ano. e agora é também o meu aniversário.

às vezes me pego pensando em como será quando essa intensidade passar. ou quando será que vou parar de acordar e me surpreender... "caralho, sou mãe!" será que um dia passa? será que quero que passe? estou tão apaixonada por você nesse momento. é paixão arrebatadora. de ter acabado de colocar você para dormir e querer ir ali dar uma fungada no teu cangote. ou pior, querer te acordar pra ouvir qualquer anedota que você tenha para me contar. você dorme na cama ao lado e eu morro de saudades. estou louca! como disse, apaixonada. até aquele olhar boçal de quem acaba de descobrir o amor eu tenho...

sobre a saudade. ela é constante. agora, sinto saudade de você ali na sala, há duas horas atrás. mas também sinto saudade de você com bumbum de fralda. ou de quando você vinha engatinhando ao meu encontro. de ter você levinha, inerte, recém-nascida adormecida grudada no meu peito. e ainda consigo ter saudades de você como está agora. saudades antecipadas. de ver você crescer. de ver você falando tudo. cantando 'a canoa virou por causa de' todas as pessoas que você conhece. saudade de você indo pra escola. saudade do passado. saudade do presente. saudade do futuro. e aí volto na intensidade... quando será que ela vai passar?

você se mostra muito parecida com o que imaginei. e tua personalidade já era evidente antes de nascer e nas suas primeiras semanas de vida. garota forte. decidida. independente. abusada. extrovertida. solar. pra estar em paz contigo o exercício da negociação é constante. você tem que ser convencida das coisas. e que não venham com o papo de 'tira a mão daí pq tem bicho aí dentro'... não, você exige explicações plausíveis, sérias. é tanta personalidade que as vezes esqueço que você é só uma menininha de dois anos em breve. e que tem sono, e quando tem sono nada tá bom, e quer colo, aconchego e uma canção de ninar.

é clichê dizer isso no aniversário, mas, minha filha, desejo que você continue sendo o que demonstrou ser até agora. você canta, você encanta. ilumina o rosto de quem a vê. e não, não é corujice de mãe - ok, talvez um pouco... - siga envolvendo o mundo com amor, sem nunca se conformar com uma situação que lhe desagrade.

mamãe ama você. ama a mulher que se tornou depois que você nasceu. e ama a parceria que estamos construindo.  
feliz aniversário, Dora.

quinta-feira, 26 de março de 2015

como viemos ao mundo eu e ela.

Foi hoje, ou ontem(?) que vi um post onde falaram sobre kristeller. Comentei de pronto: “sofri a manobra e sofro com isso até hoje”. A parte do “sofro com isto até hoje” caiu no meu colo como um tijolo. Só ali percebi que a lembrança do meu parto também me doía. E, nesses quase dois anos, eu ainda não tinha me dado conta disto, já que a minha resposta usual é de que me orgulho – e muito! – do meu parto normal.  Contextualizemos, então:

Eu, 26 anos, inesperadamente grávida do namorido mergulho no mundo da pré-maternidade. Assistida por uma GO* fofinha, era minha médica havia quase dez anos. Lá pelas 20 e muitas ou 30 semanas eu percebo seu perfil clássico cesarista – “Vamos nos preocupar com o parto mais pra frente, Aninha?”, “O pai dela é alto, né? E você tão pequenininha, como faremos isso, hein?”, “Quarta feira é o dia da Dra. atender as gravidinhas e fazer os partos.”, “Parir de cócoras é coisa que só as índias sabem fazer, a mulher moderna não tem musculatura apropriada para isso”, etc - e ensaio uma troca de médico. Não dá certo. Minha DPP** tampouco ajuda, já que caía exatamente na semana santa. Eu volto a minha médica certa de que é melhor ter alguém que saiba com quem está falando caso eu ligue em TP*** no meio da madrugada (o que, por acaso, foi exatamente o que aconteceu). Sigo nadando contra a corrente o máximo que conseguiria naquele momento com as informações que eu tinha até então. Vale lembrar que fui a primeira das minhas amigas a engravidar e, na minha família, o último “bebê” tirou carteira de motorista este ano. Então não tinha em quem me espelhar. Desbravei – e ainda desbravo - eu mesma o caminho que queria trilhar. Nunca duvidei que ela nasceria de parto normal. Apesar de vir de uma família que se divide entre histórias cesáreas ou partos normais desastrosos eu respondia prontamente a qualquer questionamento sobre o tema: “ela entrou por vias normais, vai sair por vias normais.” E, vez por outra, justificava: “tenho pânico de agulha e ninguém vai me cortar”. Por fim, chegamos às 37 semanas de uma gravidez de notável tranquilidade. Nem vomitar nos primeiros meses eu vomitei. Pouca azia. Algum desconforto com chutes nas costelas ou inchaço nos pés. Mas absolutamente nada que indicasse uma cirurgia, necessária ou não.

Dia 25 de março, uma segunda feira, fomos, o namorido e eu, ao cinema. Completaríamos 38 semanas na quarta feira. Não sei dizer o filme, mas lembro de pegar o celular a cada dez minutos, pois já sentia algumas contrações, e as contava, em segredo. Não me preocupei, já que outra coisa que ouvi bastante durante a gestação é que o primeiro filho nunca chega com 38 semanas. Recebi um telefonema do consultório da GO:

“Ana, você tem consulta amanhã, né?”
“Sim!”
“Vamos deixar para quarta, que é o dia do seu parto?”  (!!!)
“Quarta completo 38 semanas, não é o dia do meu parto. Mas pode remarcar a consulta sim.”

Com a consulta reagendada, na terça, fiz aula de hidroginástica, fui ao Saara comprar qualquer-coisa-indispensável-ao-bem-estar-do-meu-bebê-mas-que-agora-já-não-me-lembro-mais, tomei sorvete, um dia normal. Na quarta feira eu estava, pela manhã, no consultório. Contei pra ela das contrações sem muito ritmo desde segunda feira, disse que me sentia bem. Ela fez o toque – fazia em todas as consultas, tão logo a barriga começou a crescer – e me mandou pra maternidade fazer alguns exames “de rotina”: “Aninha, essa mocinha pode ficar aí mais uns dias, mas pode resolver vir logo também”. Dentre as guias de exames: uma de internação.

Fui pra casa dos meus pais. Almocei e me preparei pra ir a maternidade. Ambos insistiram que eu fosse acompanhada. Mas algo que surgiu em mim desde o início da gravidez foi uma independência que nunca tive. Dispensei a companhia. Dei um abraço longo no meu pai e sorri dizendo: “sua netinha tá querendo chegar”. Nunca me esqueço desse abraço meio sem jeito e emocionado. Parti pra Perinatal de Laranjeiras.

Passei a tarde lá fazendo toda sorte de exames. Tudo normal. Tu-do. Não foi surpresa, nada diferente das 38 semanas anteriores. Todos que me atendiam repetiam animadamente que logo eu estaria com ela nos braços ou poderia ficar ali dentro mais uns dias. Por fim, liguei pra médica e passei por telefone mesmo os resultados. Ela me sugeriu que eu ficasse lá que ela orientaria as enfermeiras pra me colocar no sorinhoe já “resolvia isso logo”. Eu agradeci. Disse a ela que voltaria no dia seguinte ao seu consultório.

Vejam bem, eu, em momento algum, percebi a forma como ela conduzia as coisas e ao me recusar a ficar lá só o fiz por realmente acreditar que minha filha não chegaria tão rápido. Mal sabia eu do que estava me livrando. E só descobriria, algumas poucas semanas depois, o que significava o tal sorinho.

Voltei pra casa dos meus pais. Já com contrações um pouco mais fortes. Aguardei o namorido chegar e iriamos pra casa – do outro lado da cidade – juntos. Me lembro de estar deitada na cama dos meus pais quando percebi que o desconforto virava dor. Chegamos em casa por volta das dez da noite. Contávamos juntos as contrações. Em algum momento eu fui para o chuveiro. Puro instinto, nunca tinha lido nada sobre água quente melhorar a sensação das contrações. Fiquei lá por não sei quanto tempo. Ele diz que cheguei a dormir um pouco sentada num banco com a água caindo nas minhas costas. Outra cena que ainda vem a minha memória é o longo corredor do apartamento onde morava, eu andando de uma ponta a outra e parando pra sentir as contrações, me agachava, me alongava, rebolava. Alguma força maior me orientou naquele momento, alguém me guiava por aquele portal. Ainda que sem conhecimento literal da situação eu a vivia inteira- e intensamente. Saindo do chuveiro fui pra cama pensando “vou logo dormir, pra ir amanhã cedo ao consultório”. Quanta inocência! Me intriga a forma como eu, totalmente entregue e consciente do meu corpo durante o trabalho de parto não tinha ciência plena de que minha filha já estava a caminho. Talvez menos de 15 minutos deitada na cama ouvi um “ploc”. A bolsa estourou. Meu primeiro pensamento “Bosta! Tanto tempo no chuveiro, a bolsa estoura na cama! Logo hoje que foi dia da faxineira!” Só então aceitei que não demoraria para ter minha filha nos braços.

O que segue depois disso são flashes. Namorido demorou pra conseguir falar com a médica. A mala não estava completamente pronta. Era de madrugada e também não foi muito fácil achar um taxi. Apesar disso: tranquilidade, felicidade e ansiedade com o momento, concentração total no corpo. Fechei a mala. A médica não atendia o celular. Não atendia em casa. O auxiliar falou que ela tinha acabado de sair da Perinatal, passou o telefone de casa. Em casa, uma tia idosa, disse que ela estava no banho, pois havia acabado de chegar. Daria o recado. Conseguimos um taxi. Eu pedia que ele fosse devagar, cada movimento mais brusco do carro doía e nesse momento não tinha concentração que ajudasse.

Chegamos a Perinatal por volta de 4h da manhã. Só sei o número por conta da etiqueta que ganhamos. Lembro de ficar feliz por encontrar um segurança sorridente e de me irritar com a recepcionista que me perguntava como eu estava me sentindo. A essa altura, os avós já estavam avisados. Fui levada pra sala do primeiro atendimento onde a moça me deu Buscopan para as contrações. Meu sarcasmo natural me fez rir na cara dela: “é sério que você está me dando um remédio que eu tomo pra cólica?”. Ela sorriu sem graça. No hospital perdi parte do meu controle sobre o meu corpo e a conexão com seja-lá-o-que-estava-me-ajudando em casa. Parece o avental aberto nas costas me dava uma obrigação moral de ficar deitada e isso não funcionava. Em algum momento meus pais chegaram. Lembro vagamente das suas caras de pânico ao me ver em TP. Estavam claramente desconfortáveis com aquilo e não souberam disfarçar. Minha mãe, dias mais tarde, admitiu que me ver em TP foi das coisa mais difíceis pela qual ela já passou. Ela viveu duas cesáreas. Sobre a médica, algum tempo já na maternidade e nem sinal dela. Namorido tenta, sem sucesso, fazer alguma massagem pra me aliviar. E reclama, em algum momento, que estou apertando a mão dele muito forte. Oi?

Em algum momento a médica chega. “Aninha, vamos te levar pro quarto.”, sumiu. Subi pro 613. Falaram em lavagem. Eu falei logo que queria ir ao banheiro. Fui. A médica apareceu de novo, já está na hora de ir pra sala de parto, foi chamar o maqueiro. Eu volto a ter um pouco do controle que havia perdido. Sinto as contrações, mas elas não doem tanto. Tudo respiração e foco. Muito foco. O maqueiro demora dias. E quando ele chega, eu o odeio, me deitam de novo. Namorido volta a “existir” quando eu noto sua ausência por um longo período, me avisam que ele foi colocar as roupas pra entram no centro cirúrgico. Fico no centro cirúrgico sozinha, deitada em posição ginecológica aguardando a equipe e o pai da minha filha. Sinto frio. O anestesista chega para o que foi, sem dúvida, o pior momento do parto: me vira de lado, orienta o namorido a me “segurar firme” e tenta duas ou três vezes até acertar o ponto da anestesia. Lembra lá em cima quando disse que tenho pânico de agulha? Pois é.

A partir daí é tudo muito rápido e intenso. Começo a ser orientada a fazer força sem sentir mais nada. Não sinto dor. Sinto a médica fazendo o corte da episiotomia sobre a qual não falamos. O anestesista, um homem que eu nunca tinha visto até então, apoia um braço sobre a minha barriga e com a outra mão apoia em um dos meus seios. Namorido segura minha mão sem atentar ao que acontecia. Por um micro segundo me sinto violada e não entendo o porquê daquilo, mas minha atenção se volta ao que está acontecendo “embaixo dos panos”. Empurro (empurram por mim?). Ela nasce. Não chora. “Surreal! Surreal! Surreal!” repito incontáveis vezes. Peço que ela venha imediatamente pro meu peito – lembrei de ter lido como isso era importante e fiz muita questão. Mas ela não chora e não pega o peito. “Por que ela não chora?” eu penso “Bebês tem que chorar quando nascem! O que há de errado?” e deixo que a levem de mim. Hoje percebo quão breve foi aquele momento, não dei tempo pra ela se perceber nascida. Ela chora. Eu me sinto aliviada. Peço para ver a placenta – que foi empurrada para fora pelo anestesista. Parte da equipe se retira levando minha bebê. O pai a segue. Na sala ficamos eu, a GO e o anestesista que preenche algum formulário de uma cirurgia anterior. Na conversa entre eles ela declara “nossa, cortei muito! Passava um elefante aqui!” e ri. Eles me parabenizam e saem me deixando sozinha novamente. Penso em tudo aquilo que acabou de acontecer. Algum tempo depois levam minha maca para a porta do elevador onde eu fico por mais algum tempo. Consigo ver o quadro com as taxas de cesárea da maternidade. Me orgulho do meu parto normal. “Eu consegui!” penso. Chego no quarto. Meus pais me recebem com carinho. Vou ver minha filha cerca de três horas depois.


O parto normal me empoderou de tal forma que acabei tendo um puerpério muito tranquilo. Encarei com força e serenidade as dificuldades das primeiras semanas. Mas esse empoderamento me fez buscar informações e descobrir cada violência que sofri no meu parto (a)normal. Não me arrependo, pois sei que a mulher que pariu a Dora fez o melhor que pode com as informações que tinha naquele momento.


*GO - ginecologista obstetra
** DPP - data provável do parto
*** TP - tabalho de parto

quinta-feira, 12 de março de 2015

do marketing ativo da creche particular.

há pouco mais de um ano, passei por uma saga em busca de creche pra cria. deixei o nome dela em inúmeras filas de espera até encontrar a que nos recebeu de braços abertos com muito carinho e onde Dora ficou por um maravilhoso ano. até optarmos por tentar uma vaga na rede pública. durante esse ano recebi resposta de algumas dessas listas de espera. todas gentilmente recusadas, com uma breve e também educada justificativa. nada de mais. até hoje de manhã. quando recebo no meu celular uma ligação de uma funcionária - que aqui chamaremos de Fulana - representando uma creche - que aqui chamaremos de creche X-particular-com-fila-de-espera-kilométrica. segue o diálogo:

- alôu bom dia, aqui é a Fulana, da creche X-particular-com-fila-de-espera-kilométrica. estou ligando para lhe avisar que surgiu uma vaga para sua filha. para fazer a matrícula precisamos da certidão de nascimento, identidade do responsável, comprovante de... - começa a me dar as informações sem que eu confirme interesse. interrompo.

- ah Fulana, muito obrigada, mas eu consegui vaga na ótima creche Y-pública, e minha filha já está no processo de adaptação.

- nossa, que sorte! mas você já conhece nosso serviço diferenciado? faremos um processo de adaptação muito mais personalizado com sua princesa.
- obrigada, Fulana. estou muito satisfeita com a creche Y-pública. o serviço deles é excelente, minha filha está feliz lá. não temos interesse. e obrigada por pagar seus impostos e contribuir, você também, com a educação da minha filha. bom dia.

nada contra o funcionário vestir a camisa da empresa - e, Fulana, se você está lendo isso, PARABÉNS! ligo lá logo mais pra te indicar a funcionária do mês -, mas me soou prepotente o "faremos um processo de adaptação MUITO MAIS personalizado com sua princesa". será que ela teria o mesmo discurso se no lugar de creche Y-pública eu tivesse dito creche W-particular-com-fila-de-espera-kilométrica?


fora o "sua princesa", que me dá arrepios. mas aí é só chatice minha mesmo. :p