sábado, 24 de janeiro de 2015

amizade x bolo.

estamos indo hoje a festa de aniversário de uma amiguinha da creche. a primeira pessoa, fora família e amigos bem próximos, por quem ela manifestou algum vínculo de amizade. poucas semanas após entrar pra creche, ela já chegava em casa falando da Bia. se a gente pergunta quem está esperando por ela na creche, a resposta é imediata e entusiasmada "a Biaaaa!". durante as férias, ela perguntava diariamente "cadê a Biiia?". quando a creche voltou e a Bia não, foi difícil explicar que a Bia estava viajando e que voltaria em algumas semanas: "a Bia foi na creche não..." ela repetia desgostosa ao voltar pra casa no fim do dia.


pois bem, chegou o dia da festa da Bia. há dias estamos conversando sobre como vai ser legal ver a Bia. reencontrar a Bia. brincar com a Bia. e etc, etc, etc.

ao acordar, falamos mais uma vez no assunto:

- filha, sabe o que faremos hoje?
- na festa da Bia!
- isso! e você vai ver a Bia, não é legal? qual a coisa mais legal que você quer fazer na festa da Bia?
- éééé - ela enrola enquanto pensa, afinal, com tanta saudade da amiguinha, são muitas as possibilidades. e responde em seguida - a Dora vai comer bolo!



terça-feira, 20 de janeiro de 2015

o desfralde.

quem começou foi ela. juro. começou não querendo mais colocar a fralda. daí ela descobriu como tirava a fralda. um pulo pra encontrar a criatura correndo pelada pela casa, mas com esse calor, quem não faria isso, né? ah! a liberdade da infância... em seguida eu notava que as fraldas saiam mais secas do que molhadas. a menina se amarrava em fazer xixi no banho, era botar o pezinho na água e vinha exclamando “xixiii!!” – seguido de uma dancinha, claro. o número 2 também passou a ser anunciado. ali, no meio da sala mesmo, na frente das visitas, despido de qualquer pudor. era se colocar num cantinho, uns segundos de silêncio e concentração para o anúncio formal vir em seguida “A Dóia feix totó!”.

os sinais estavam ali na minha cara. mas ainda assim eu achava cedo. eles não deviam usar fralda até a alfabetização uns quase 3 anos? não, ela resolveu que 1 ano e 9 meses de fralda estavam de bom tamanho pra ela. como já deve ter ficado claro com um ou outro texto deste humilde blog, eu não dito regra nenhuma por aqui. se ela demandou, a gente acata. as festas de final de ano vieram junto com um recesso na creche e eu resolvi “fazer um teste”: deixa aí essa menina de calcinha... vamos ver no que dá.

deu em xixi no chão. óbvio. logo que você tira a fralda da cria, a sensação que dá é de que você vai limpar dejetos do chão até eles completarem 18 anos. com alguma sorte esse tempo é reduzido para alguns poucos meses. passado esse período, percebi que ela estava muito atenta ao que acontecia no seu corpo, ainda que não tivesse total controle de tudo – mas quem tem, né? rs

janeiro chegou a creche voltaria e eu só tinha mais um pacote de fraldas no armário. Nem Kubitschek pensaria um plano de ação tão ousado quanto o meu “desfralde em um pacote de fraldas”! bora lá arrumar um penico* e adesivos**. fui com ela comprar ambos. ela já queria sentar no penico lá na loja mesmo. chegou em casa animadíssima com tudo. difícil foi explicar a ela nos primeiros dias que não dá pra fazer xixi a hora que a gente quer, que tem que esperar a hora de ter vontade.

nos 1os dias ela ficava em casa de calcinha e fralda na creche (lembrem no plano de ação! Eu tinha 28 fraldas!). de vez em quando pedia, daí a gente saia correndo, dava tempo, ela fazia no pote, a gente fazia festinha, dava tchau enquanto tudo ia privada a baixo, lavava a mão, ganhava adesivo e mais festinha anunciando o feito pela casa. mas tinha hora que ela não pedia, daí era cara de paisagem, falar com ela num tom indiferente que era pra fazer no penico e pedir que ela avisasse da próxima vez, isso enquanto limpava o chão. conte umas 20 3 ou 4 vezes por dia, diminuindo ao longo dos dias.


isso vai dar um trabalho pra descolar da parede...

ousadia é o meu 2º nome: com 3 dias no processo, resolvi que já dava pra ir a pracinha sem fralda. fez xixi na pracinha, óbvio. mas foi só uma vez, no dia seguinte já ficou uma hora e meia comigo na rua sem acidentes. sempre que chegamos em casa, direto pro penico e... festinha!

ao fim da 1ª semana, já pedi na creche: pode deixar ela sem fralda. ousada! e naquele mesmo fim de semana, um passeio de 4h na rua: brincou, pulou, correu, cantou, chorou, se jogou no chão, comeu, bebeu e... nenhum acidente! :D

tudo sempre exaustivamente conversado: "filha, vamos pra tal lugar, você quer ir de calcinha?" "tem que pedir pra fazer xixi, tá?" "você quer fazer xixi?" "mamãe vai ao banheiro, vamos junto?"

o cocô é um caso a parte. tenho percebido uma certa resistência dela pra fazer no penico, mas ela mesma já não aceita a fralda durante o dia. o que resolve é muita ameixa/azeite/farinha de linhaça e sentar do lado dela lendo um livrinho enquanto ela relaxa e deixa as coisas acontecerem. um pregador no nariz ajuda.

estamos oficialmente nessa há exatos 15 dias. percebo que os acidentes acontecem quando ela está com muito sono e se descontrola chorando. sendo assim, tem sido fácil evita-los. ela ainda está de fralda a noite por pura falta de coragem materna, pois a fralda tem amanhecido seca quase diariamente. além disto, ela mesma já acorda e vai direto fazer seu xixizinho matinal.

o mais importante nisto tudo fui eu conseguir desapegar do “que é normal” pra entender os sinais que ela estava dando. a maior parte das pessoas diria que está muito cedo. mas ela me mostrou que estava na hora dela, que ela não queria mais a fralda. nada mais justo que respeitar isso e entrar de cabeça no mundo das calcinhas fofas. <3


 [*eu odeio penico. Prometi pra mim que minha filha não usaria penico. Que eu não ia ficar limpando baldinho de merda de cocô. Ela ia aprender a usar direto a caixinha de areia o vaso. Leia novamente aqui sobre o cuspir pra cima.]

  [**a ideia do adesivo é tornar o ritual todo mais atraente. Depois de já ter comprado e começado a dar os adesivos eu li aqui que eles podiam não ser uma boa ideia. Mas confesso que engoli a culpa de estar comprando o desfralde da minha filha com adesivos da Peppa Pig, ignorei e continuei usando. Me julguem.]

ps. sou total a favor de respeitar o tempo deles - pra tudo. Mas isso não significa que você não possa "dar uma forcinha", né? Seguem algumas atitudes que acredito que tenham influenciado no "start" desse processo por parte dela: 
- ela desde sempre viu os adultos da casa indo ao banheiro - acho que isso naturaliza o ato e ajuda na fase em que ela está de imitar tudo o que fazemos; 
- usamos fralda de pano quando estava em casa - li certa vez que por não "deixar sequinho" a FP causa o incomodo de não querer usar fralda um pouco mais cedo; 
- deixar de calcinha/andar pelada pela casa mesmo antes do  desfralde - ao meu ver ajuda eles a entenderem o que acontece no corpo liga "a vontade de xixi/cocô" ao "xixi/cocô saindo"
- desde cedo eu jogava o cocô dela no vaso e dava "tchau cocô" - o que também já chamava a atenção dela pra todo esse processo.
- festinha na hora de vestir a minha calcinha - pode parecer bobo, mas chamar atenção dela pra como é legal vestir calcinha como a mamãe/vovó/titia pode deixar ela mais consciente da proximidade desse momento. Aqui até hoje eu pergunto se ela quer a calcinha ou a fralda, ela nunca mais quis a fralda...

claro que isso é tudo com muita leveza e sem pressão. se eu notasse que ela não estava dando bola pra isso, nunca teria seguido adiante...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

um dia daqueles.

calor, muito calor. menstruação veio com tudo. daqueles dias em que a sensação é a de que acordamos pesando 3x o nosso peso. mulher de fases total. e nessa nova fase de mulher com ciclos, ainda me acostumo ao papel de mãe: mãe de tpm... mãe com cólicas... mãe de fases...


esse mês ela veio de surpresa. ontem a minha vontade era deitar e sentir o fluxo, o mundo, o vento (que vento!?). só sentir.

.
e hoje, um pouco melhor, mas funcionando ainda numa velocidade digna de bicho-preguiça combinada a paciência e simpatia de um funcionário público alemão nos 2 minutos finais de seu expediente de sexta feira. como explicar isso a uma criança de 21 meses e toda a sua energia inesgotável? não sei.
.
em pouco mais de 24h, já deixei almoçar na frente da tv para não dar tanto trabalho, ignorei crise de choro – dela e minha – pra terminar de dar banho, dormi longe dela pra não ter que dar o peito a noite... trófeu honorário de menasmãe pra mim.
.
eis que hoje, no caminho para a creche ela resolve que engatinhar no chão da estação de metro é uma boa. e eu, sem paciência alguma, interfiro:
- filha, levanta.
- miaaauuu.
- filha, levanta! não tem ninguém engatinhando aqui...
- au au au!
- Dora levanta que esse chão tá imundo!!! – já termino a frase pegando ela do chão sem delicadeza alguma, o que dispara os sensores da culpa materna, em três micro-centésimos de segundo eu já me sinto culpada por toda a dor e sofrimento que há no mundo e já emendo o esporro num pedido de desculpas - desculpa a mamãe, filha. mamãe tá cansada, esse calor está deixando ela meio dodói e sem vontade de brincar. descul...

.

ela não me deixa terminar e me envolve no maior abraço que seus curtos braços podem dar acompanhado de um delicioso e babado beijo na bochecha. segue apontando o mundo do meu colo e conversando como se nada tivesse acontecido.
.

explicar pra quê? se ela o que ela entende vai muito além do verbal...

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

a maternidade e o poder.

poucas são as minhas lembranças de sentir-me realmente poderosa nesses quase 30 anos sendo quem sou. uma sádica brincadeira de criança dos anos 80: jogar álcool e tacar fogo em formiga (me julguem!) no quintal de casa, isso era poder. [Dora se você está lendo isso: NÃO, VOCÊ NÃO PODE PEGAR O ÁLCOOL NO ARMÁRIO E IR QUEIMAR INSETOS! OU QUALQUER OUTRO ARTRÓPODE. OU BICHO NENHUM!] outra experiência infantil de poder que tive era tapar frestas por onde a água escorria no barro durante as chuvas de verão no quintal da casa dos meus avós, afinal era a capacidade plena de mudar o curso das águas. uaaaau! ou ainda ensinar truques às minhas cadelas, sensação fantástica de ser superior (oi?). enfim, nada que me colocaria na lista da Forbes, mas nunca me frustrei com isto.

eis que um dia alguém resolve que eu daria conta de conceber, gestar, colocar no mundo e criar um indivíduo. fudeu!  gente, isso é poder! a barriga começa a crescer, a pele e o cabelo exalam amor. as pessoas na rua te acham linda. todos elogiam, te parabenizam. concordam que aquela é a maior benção que alguém pode receber. você se torna, de fato, o centro do mundo. o ser mais poderoso do universo é a mulher grávida.

daí a cria nasce. e, no meu caso, ainda me mandaram uma cria ariana. Agora sim, fudeu!

contraditoriamente, meu empoderamento maior veio exatamente no papel em que mais tenho aprendido a ceder e negociar. desde cedo, quando ela começou a ficar grande aqui dentro e eu precisei aprender a adormecer de lado e não de bruços, como havia feito a vida inteira. ao nascer e até hoje era no peito e só no peito que dormia. pra comer, uma colher na mão dela (não importa a sujeira que ficasse por ali depois) e outra na minha mão: “filha, quer ajuda?” “nãum, Dóia tomi xozinha!” ou “ajuúda mamain”. aprender a falar foi um enorme ganho de liberdade, ela sabe se colocar, mostrar seu limite e até onde quer ser cuidada. 

um olhar sem cuidado pode achar que estou cedendo demais ou até me tachar como desatenta. mas não, o que acontece aqui entre nós duas dia após dia é uma dança que vem sendo ensaiada lá desde os dois risquinhos no palito, quando ela me mostrou que eu seria poderosíssima, ainda que não tivesse o controle de absolutamente nada. aprendemos diariamente uma com a outra, são negociações calorosas feitas com o olhar, acordos decididos na base de um toque, batalhas épicas resolvidas na fração de uma beijoca ou na eternidade de um abraço, debates silenciosos durante a noite, convenções musicalizadas num sorriso... descubro que o real poder é  saber ler o outro e jogar junto. no fim, ela ganha. sempre. e se ela ganha, eu ganho. afinal, jogamos no mesmo time.


(ainda bem que eu disse lá em cima que não almejava a lista da Forbes, né?)



segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

mom mum mommy...!

mãe estourando de dor de cabeça com a cara enfiada no travesseiro. e o bebê:
- mamãe.
silêncio.
- mamãe... mamãe!
silêncio.
- mamãeee!! mamãeee!!
- oooi?

smack!


tenho minha própria versão do Stewie:



quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

sobre a não-solidão da maternidade e o amor que nunca para de crescer


[primeiramente uma breve nota: o texto a seguir foi escrito há algumas semanas atrás e postado num grupo querido de mães que participo. é com o sentimento descrito nele que coloco meus dois pés em 2015, sem olhar para trás. que o novo ano seja repleto de amor, e só.] 
.
.
sobre a não-solidão da maternidade e o amor que nunca para de crescer.

.
falamos tanto sobre como a maternidade nos traz uma solidão arrebatadora. hoje venho compartilhar com vocês um pouco da minha experiência contrária. eu tenho um grupo muito querido de amigos da primeira faculdade que cursei. não terminei o curso, mas os amigos viraram quase uma família. daquele tipo de grupo que uns casaram entre si, os cônjuges que foram acolhidos, que a gente chega na casa uns dos outros abrindo a geladeira, se metendo na conversa alheia, enfim... muita intimidade mesmo. rs minha cria foi o primeiro bebê do grupo e, até agora, é a única. achei, sinceramente, que essa "nova fase" na minha vida iria me afastar um bocado deles até que chegasse sua vez de procriar. mas não. 
.
hoje acordei cedo com a filhota e partimos pro outro lado da cidade onde iriamos passar o dia com parte do grupo. gente, quanto amor cabe nessa vida! ver minha filha, o maior amor que eu poderia ter, crescer e criar vínculo com meus melhores amigos, os meus amores antes dela nascer, só faz aumentar o amor que eu não tinha ideia que poderia crescer ainda mais.
.
essas pessoas, jovens, recém-casados, com planos de volta ao mundo e nenhuma noção do valor da mensalidade de creche ou do tubo de Bepantol, dividem comigo a mesma cumplicidade que qualquer mãe-amiga dividiria. isso me surpreende tanto. me alegra o coração. e vejo que, as vezes, só o que a gente precisa é relaxar e deixar as pessoas se aproximarem - ou reaproximarem. 
.
hoje estou explodindo de amor. pela minha filha e pelos meus amigos. os mais lindos que eu poderia ter.