querida
mulher que passou de forma consciente por uma cesariana para que seu filho
nascesse,
a
luta a favor do parto normal não é contra você.
quem busca e consegue um parto normal - ainda que esteja sujeita uma série de violências obstétricas - não acha que você ama menos o seu bebê e ela ama mais o dela por que você optou passar por uma cirurgia e ela não. é serio. se tua via de parto foi respeitada e a dela também, parabéns! ambas são privilegiadas por isso, você sabia? sim, pois dentre a clientes de planos de saúde, mais de 60% das mulheres começam sua gestação afirmando que querem ter seu bebê por parto normal, sabemos que menos de 20% tem seu parto por via vaginal. que tipo de escolha é essa?
quem busca e consegue um parto normal - ainda que esteja sujeita uma série de violências obstétricas - não acha que você ama menos o seu bebê e ela ama mais o dela por que você optou passar por uma cirurgia e ela não. é serio. se tua via de parto foi respeitada e a dela também, parabéns! ambas são privilegiadas por isso, você sabia? sim, pois dentre a clientes de planos de saúde, mais de 60% das mulheres começam sua gestação afirmando que querem ter seu bebê por parto normal, sabemos que menos de 20% tem seu parto por via vaginal. que tipo de escolha é essa?
como
podemos falar de respeitar a vontade da mulher quando essa ‘opinião’ muda tão
radicalmente em algumas semanas?
existe um mercado sustentado por essas cirurgias pré-agendadas – e que, não
raro, são ditas ‘de emergência’ para a gestante e sua família. um hospital que ganha mais se tem previsão exata de quantas pacientes passarão pela sala de
parto por dia. equipes médicas ganham que mais se planejam bem seu tempo dentro do
hospital e dentro do consultório. imagine o que gasta uma paciente que opta por
parir naturalmente em contraste com uma que passa por uma cirurgia onde há a necessidade
de incontáveis recursos hospitalares. cabe a nós questionar o funcionamento
desse mercado e refletir o quão ético é seguir alimentando o mesmo, não?
é
indiscutível que cabe a mulher a total autonomia sobre o seu corpo. e não
somente no parto, desde o seu nascimento. e essa autonomia passa pela
consciência. meninas precisam conhecer seus corpos, aprender que podem se
tocar, se conhecer, se masturbar e não ter vergonha disso. saber sobre
reprodução vai muito além de contar os prováveis 28 dias do ciclo menstrual e
colocar camisinha em banana num curto tempo de aula de ciências no oitavo ano. ensinemos
as nossas meninas sobre o método Billings, alternativas aos
absorventes de farmácia – absorventes de pano, coletores -, sobre formas de lidar
com as cólicas. arranquemos o rótulo tragicômico da tensão pré-menstrual. ensinemos
a elas a lidarem com seus corpos em vez de temerem os mesmos.
nós crescemos
ouvindo como o corpo feminino é defeituoso: somos o sexo frágil; somos muito
magras ou estamos acima do peso; nossos peitos são muito pequenos, muito
grandes, caídos, diferentes entre si; o quadril é muito largo ou muito
estreito. não há corpo feminino perfeito possível! o que nos é apresentado na
mídia chega a ser risível, se olharmos atentamente. buscamos a cintura da
Cinderela ou os seios da Lara Croft? tudo isso diminui a confiança da mulher
sobre o próprio corpo. e o momento da gestação/parto/amamentação é só mais um
momento onde olhamos para nós mesmas desacreditadas. quem vai se entender capaz
de parir quando tem para isso uma ferramenta tão imperfeita e tão falha como o
corpo feminino?
mulheres têm a confiança minada, pela ideia de que seus
corpos são falhos e incapazes (ou elas mesmas o são, por consequência) e
precisam de ajuda médica. como a mulher pode “escolher” se os médicos estão
direcionando essa escolha? se os convênios possuem taxas de quase 90% de
cesáreas há algo de muito grave nos corpos das mulheres ou no atendimento
obstétrico?
o
movimento da humanização do parto – que é plural e polifônico como todo
movimento social – de modo geral propõe justamente divulgar informação para que
a mulher tenha autonomia em relação ao seu corpo e seu parto. não é uma luta
anti-escolha, muito menos anti-mulher-que-faz-cesárea, mas a favor da autonomia
da mulher.
estamos jogando no mesmo time.
estamos jogando no mesmo time.
Ana Luz
colaboração: Marina Nucci
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