terça-feira, 27 de outubro de 2015

#primeiroassédio

todas nós temos histórias de um primeiro assédio. todas nós temos histórias de muitos outros assédios mais. eles vieram de pessoas que deviam nos amar e nos proteger, mas que nos marcaram pra sempre com cenas que acabamos guardando lá no fundo da memória para que nunca sejam lembradas. vieram de completos estranhos que acham que não fizeram nada demais com aqueles olhares, palavras ou toques.

me embrulha o estômago pensar nas grandes chances que minha filha tem de passar por isso, de sentir o mesmo medo, constrangimento, nojo e culpa que eu senti por tantas vezes, por tanto anos. será que ela também vai demorar mais de vinte anos para entender que a culpa não é dela, que não é ela a se sentir constrangida, que não é ela a pessoa nojenta daquele contexto, que ela não precisa sentir medo? e, mais importante de tudo, será que precisa demorar décadas para que ela entenda que não precisa se calar diante disto?

vamos contar sobre o #primeiroassédio, o segundo, o terceiro, o décimo oitavo, o trigésimo! vamos falar sobre isso! até que fique bem claro que não é 'só uma cantada', que a menina de doze anos não é uma 'novinha' e que o corpo de uma mulher pertence a ela e somente a ela.

deu pra entender ou quer que desenhe?

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

creche pública.


como muitos outros aspectos da maternidade, o tema 'escola pra cria' foi pensado enquanto acontecia e não necessariamente de forma planejada. tivemos uma experiência muito bacana na primeira creche que nos acolheu, que teve papel importantíssimo na transição bebê-em-casa-bebê-na-creche, um lugar que até hoje recomendo a quem me procura pra saber como foi quando ela começou na creche aos 11 meses.


infelizmente a mensalidade de uma creche particular não cabe no bolso de todas as famílias. a verdade é que pagar creche é realidade possível para bem poucos pais e mães, com a gente não foi diferente. busquei na creche pública uma alternativa possível para nossa realidade financeira e a acabei com um envolvimento muito maior com a causa do que eu poderia esperar.



essa foto aí mostra muito pouco do que a creche representa pra mim. além do óbvio - bastante espaço verde pras crianças correrem -, esse cantinho no meio da zona sul do Rio de Janeiro conta com uma estrutura super bacana, equipe maravilhosa, apaixonada pelo trabalho que faz e que se coloca sempre muito aberta e disposta a construir a escola junto com as famílias, junto com as crianças.

precisamos desconstruir preconceitos tolos envolvendo a qualidade de serviços públicos e particulares. essa escola não deixa a desejar em absolutamente nada quando comparada a instituições particulares que visitei, muito pelo contrário... 

sei que não são todas as creches públicas que são boas assim, mas acredito muito que todas podem ser boas assim. por isso ter minha filha no ensino público vai muito além da economia em mensalidade, é um ato político. um ato político de ocupação de um espaço que é de todos nós e deve ser construído e cuidado por todos nós. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

carta aberta a quem não anda pra cima e pra baixo carregando um bebê

Prezados seres habitantes de um universo paralelo ao meu onde você não carrega um bebê por aí com você a onde quer que você vá,
este texto é para você, que encontra na rua uma mãe com um simpático bebê sorridente e acaba interagindo com a dupla. Seguem algumas dicas de etiqueta nesta interação:
- pode elogiar a vontade, mas se não tem algo positivo para falar? Não fale. Histórias sobre como a prima do ex-namorado da sua vizinha perdeu de forma trágica um filho com a mesma idade dificilmente vão interessar. Pode ficar só interagindo com o bebê, não tem problema.

- evite colocar a sua mão na mão do bebê. Bebês estão passando pela fase oral, colocam tudo a boca. Sua mão pode até estar limpa, mas a mãe da criança não sabe disso e não vai fazer muita diferença se você falar que acabou de lavar a mão.
- evite passar a mão na barriga de uma grávida que você nunca viu na vida. Acha isso um exagero? Imagine a situação sem a mulher estar grávida. Eu sei o milagre da vida é lindo, mas você sairia acariciando a barriga de estranhos se não fosse o bebê ali dentro? Se faz muita questão de passar a mão, peça. A mãe ainda é a dona da barriga.
- em hipótese alguma ofereça algo para o bebê comer sem antes perguntar a mãe se ele já come ou se ele pode comer aquilo que você quer oferecer. (Isso pra mim vale até para crianças maiores.)
- por favor, nunca pergunte “o que é que ele tem?”, “o que tem de errado com ele?” ou similares quando o bebê está chorando. O que quer que esteja acontecendo, a mãe provavelmente já sabe o que é e já está fazendo o possível para resolver. Se o choro do bebê te incomoda, se retire.
- também não tente adivinhar. Frases como “É fome, por que você não dá a mamadeira?”, “Tá com sono, né? Olha só como está tarde!” ou “Ela não está com frio? Olha a perninha de fora” são comentários absolutamente dispensáveis. Como dito ali em cima, a mãe já sabe o que está acontecendo e já está tomando as providências.
- não diga o que você acha. Sério. Mesmo que você tenha parido 10 filhos e criado mais 10 que foram largados na tua porta e todos eles estejam bem de vida, saudáveis e bem resolvidos. Ainda assim, quem sabe o que é melhor para aquele bebezinho em questão é a mãe dele.
- ofereça ajuda, mas não insista. Por mais enrolada que aquela mãe pareça estar, ela está acostumada a fazer o que quer que esteja fazendo. E se precisar de ajuda ela vai logo aceitar, ou até pedir. Insistir em ajudar enche o saco.
Bom senso, minha gente. Eu sei que não vem de fábrica. Mas pense que você é um estranho e o bebê é a coisa mais importante da vida daquela mãe.
E que fique claro que essas são observações para quando você é um estranho. Amigos e família servem para dar pitacos e interagir! 
Emoticon smile
ass. uma mãe que esteve junto a uma estranha sem noção por 40min num engarrafamento com a filha chorando de sono

terça-feira, 6 de outubro de 2015

errata do dia de hoje.

hoje preciso te pedir desculpas. 
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que você me perdoe pelo colo que não dei. pela pergunta que fingi não escutar. pela negociação na qual poderia ter cedido e não cedi. pelo momento juntas em que estive completamente ausente. pelo caminho percorrido de mãos dadas que não aproveitei. pelos suspiros impacientes. pela música que não cantei junto. pelo aconchego que não ofereci. pelo carinho que neguei.
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as vezes, filha minha, as mães tem um dia muito esquisito. um dia em que lá no fundo - ou não tão fundo assim - elas desejam voltar a ser só filhas e ter colo, respostas, acordos, presença, companhia, paciência, aconchego e carinho. 
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o amanhã não muda o que foi hoje. mas hoje mudou o que será amanhã. amanhã serei melhor. prometo.