conseguir parir, mesmo sofrendo
violência obstétrica, querer ter meu corpo e minhas escolhas respeitados pela
equipe médica. aceitar que o parto que tive foi o parto possível para mim e
para minha filha naquele momento, com as informações que eu tinha naquele
momento.
passar pela abissal solidão do
puerpério.
afirmar-me constantemente como
mãe-capaz para parentes, amigos e sociedade em geral compartilhando e
explicando minhas escolhas-fora-da-caixa.
morar sozinha com bebê de colo
por meses. e lidar, ainda, com a solidão imensa que a maternidade traz.
fazer um mestrado com uma filha de
2 anos.
seguir buscando os melhores
caminhos para mim e para ela lutando para não entrar no piloto-automático da
criação de filhos.
ouvir dos outros que ‘você não
devia beber cerveja se ainda amamenta’, nem ‘sair a noite sair a noite se tem
filha pequena’, da sorte que tenho da minha filha ter um pai presente e – o clássico
– ‘filho é da mulher, né?’
sentir-me a única responsável por cuidar/organizar/decidir sobre questões da vida da minha filha como a sua rotina semanal, qual escola vai estudar, se faz ou não atividades extra-classe, quando e a qual pediatra/dentista levar, etc. e, sendo aquela que 'dá a palavra final', arcar com as consequências/dúvidas/inseguranças que essas decisões trazem.
sentir-me a única responsável por cuidar/organizar/decidir sobre questões da vida da minha filha como a sua rotina semanal, qual escola vai estudar, se faz ou não atividades extra-classe, quando e a qual pediatra/dentista levar, etc. e, sendo aquela que 'dá a palavra final', arcar com as consequências/dúvidas/inseguranças que essas decisões trazem.
argumentar – agora diretamente
com ela – que rosa não é cor de menina; que homens podem beijar homens na boca,
se isso os faz felizes; que a moça dirigindo o ônibus pode dirigir o ônibus e
qualquer outra coisa que ela tiver afim de dirigir; que antes de casar com o
príncipe, a princesa bem podia viajar/estudar/conhecer outros príncipes; que o
cabelo dela pode ser cacheado, liso ou do jeito que ela quiser.
ser rotulada de chata por
questionar a normalização do consumismo infantil; questionar a adultização das
nossas meninas; questionar a medicalização da infância. por questionar tudo o
tempo todo...
estes são meus desafios da
maternidade. perdoem-me, mas disto não tenho foto. sou feliz em ser mãe apesar
disso. o amor, o cheirinho de bebê, as fofurices, os marcos de desenvolvimento,
os sorrisos, os abraços fazem parte da maternidade sim. mas os fatos acima
listados são o que me fazem a mãe que sou hoje e da qual me orgulho.
são só três anos nesse papel,
ainda vou passar por muita coisa das quais não faço ideia que me esperam, mas
quero sempre lembrar desse início, quando percebi que maternidade é paradoxal e que a foto beijoca-do-pai-na-barriga está bem longe da realidade do dia a dia.
tô fora de padecer no paraíso.